Movimento propõe aumentar o tempo de ar livre das crianças Seguir o Blog!
16/07/2016. MARIANA TIMÓTEO DA COSTA
SÃO PAULO - Sair do mundo bidimensional dos eletrônicos, dos brinquedos de plástico e levar as crianças ao mundo 4D das texturas, do cheiro do mato, da terra molhada. Cresce entre especialistas do Rio e de São Paulo um consenso de que é preciso reconectar os pequenos com a natureza. O movimento Crianças e Natureza (Children and Nature) surgiu em Minneapolis, nos EUA, capitaneado pelo escritor Richard Louv. No Brasil, virou uma das principais bandeiras do Instituto Alana, que vem promovendo debates entre médicos, educadores, pais e o poder público com o objetivo de aumentar o tempo de ar livre das crianças. Pesquisas internacionais mostram os benefícios de um passeio na mata, uma caminhada no parque ou da manipulação de uma hortinha, mesmo que na varanda de casa. Segundo Louv, crianças mais em contato com a natureza tendem a ser menos hiperativas, menos agressivas, a colaborar mais umas com as outras — além disso, se reduzem os índices de obesidade e alergias, a capacidade cognitiva é aumentada, elas ficam mais focadas e criativas. — Precisamos de mais pesquisa sobre quanto tempo de exposição à natureza seria necessário para aliviar cada sintoma. Mas sempre digo: alguma experiência na natureza é melhor do que nenhuma, e mais é melhor do que alguma — diz o escritor. — Pais e cuidadores precisam se engajar e questionar: as crianças estão molhando as mãos? Estão com os pés cheios de lama? Se não, mãos à obra. “TRANSTORNO DE DÉFICIT DE NATUREZA” Em seu livro recém-lançado no Brasil, “A última criança na natureza”, considerado um dos mais importantes sobre o assunto, o americano aborda ciência, História e comportamento. E criou uma expressão, “transtorno de déficit de natureza”, para chamar a atenção para o conjunto de problemas físicos e mentais que podem ocorrer em decorrência de uma vida desconectada desse mundo. Sem apelar a radicalismos, Louv propõe maneiras de driblar o excesso de urbanização de cidades como São Paulo. Diz que, por mais que 80% dos brasileiros vivam em centros urbanos, não pode haver desculpa para que o ar livre não seja explorado. — A pessoa pode comprar um carregamento de terra (mais barato do que um videogame) para plantar uma horta em casa ou uma banheira para pássaros. Nos fins de semana, menos visitas a shoppings e mais visitas ao ar livre. Há uma forte transformação cultural a ser feita — recomenda. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) já está atenta e conversa sobre como médicos podem passar a “prescrever natureza” a pacientes. A instituição pretende ainda chancelar pesquisas científicas sobre o tema — que não existem no Brasil — para estabelecer padrões de tratamento. — Os benefícios da natureza já estão 100% comprovados nas análises clínicas. Mais tempo ao ar livre regula hormônios como a melatonina (atuante no sono) e o cortisol (que controla estresse, inflamações, o sistema imunológico, entre outras funções). Há clara atuação no chamado eixo psiconeuroimunoendrócrino da criança — diz o pediatra e médico da família da Universidade de São Paulo (USP) Ricardo Ghelman, integrante da SBP. Ricardo vem obtendo sucesso clínico prescrevendo natureza a pacientes com déficit de atenção, sinais de depressão, agressividade e alergia porque, segundo ele, o contato com os antígenos naturais “no mato ou na praia” deixa o organismo mais forte. O pediatra começou a promover viagens de fins de semana com grupos a locais como a Ilha do Cardoso, no litoral de São Paulo. Estudo realizado pelo Landscape and Human Health Laboratory da Universidade de Illinois mostrou redução dos sintomas em todas as 452 crianças de 7 a 13 anos avaliadas com transtornos de ansiedade, após o aumento do tempo em parques. Um outro estudo, realizado em Massachussetts em mais de 900 escolas, mostrou que alunos até 11 anos tiveram notas mais altas em inglês e matemática após ficarem mais tempo ao ar livre. Há estudos nessa linha sendo feitos também em Chicago e na Suécia e que ainda não foram publicados, comenta Louv. [ ... ]
Tags: brincar, criatividade, liberdade, natureza









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