Os professores de Arte podem trazer o Brasil à razão Seguir o Blog!
12/09/2017. LUCAS MAGALHÃES, LEANDRO BEGUOCI
Opinião: Sem educação artística, uma sociedade se perde nas armadilhas autoritárias
Recorte do quadro "A Morte da Virgem", de Caravaggio ATENÇÃO: este artigo contém imagem de nudez. Caravaggio é um dos pintores mais admirados do mundo. Os contrastes entre luz e sombra e o realismo das naturezas mortas apodrecidas são apenas algumas marcas de um dos pintores mais poderosos da história. Seus quadros estão nos melhores e mais visitados museus do mundo. Hoje, dificilmente Caravaggio seria acusado de degenerado ou de atentar contra os bons costumes. Pouquíssimos pais impediriam seus filhos de ver obras como a crucificação de Pedro, o apóstolo, ou sua medusa desesperada. Se estivesse vivo, talvez Caravaggio se surpreendesse com tamanha acolhida. Na sua época, Caravaggio era um artista maldito. Hoje, é um cânone da civilização ocidental. Para pintar Pedro, ele usou o rosto de um mendigo romano. Para pintar Maria, a modelo era uma prostituta. Foi um escândalo na Roma de alguns séculos atrás – e talvez ainda choque algumas pessoas, que contemplam esses quadros sem saber que os santos de Caravaggio eternizam os traços dessas pessoas. Pense no que aconteceria se alguém pintasse, hoje, Maria com os traços de uma atriz pornô. Talvez você já imagine a reação... Arte e transgressão caminham lado a lado Caravaggio foi difamado e perseguido na sua época. Ele não foi o único na história da arte. Artistas, em várias épocas e em várias partes do mundo, pagaram preços altos por expressar o que veem, o que vivem, o que querem. Obras de arte nos fazem olhar o mundo de outro jeito – e nos fazem olhar de um jeito diferente para nós mesmos. Não são feitas para agradar nem para desagradar. São apenas feitas. A leitura é nossa – e alguém tem de nos ensinar os elementos para que possamos fazer essa leitura com propriedade. Por isso, você, professor de arte, tem um papel fundamental neste momento do Brasil. Você provavelmente acompanhou a polêmica sobre a exposição Queermuseu no Santander Cultural, em Porto Alegre. Após uma campanha nas redes sociais contra e exposição e piquetes na porta do prédio, o banco decidiu encerrar a mostra antes do tempo. Ela reunia obras de artistas brasileiros consagrados, como Adriana Varejão. Para os críticos, a mostra fazia apologia à zoofilia, à pedofilia, além de ofender o cristianismo. Uma das obras tinha discos de pão em formato de hóstia, e cada peça tinha uma palavra como ânus, vagina e pênis. Como professor de Arte, você sabe que essa reação não é nova – e também sabe o quanto ela é perigosa. Vamos a mais um exemplo. O que vem à sua cabeça ao ouvir a expressão "a origem do mundo"? Alguns vão pensar no Gênesis bíblico. Outros, no Big Bang. Já o pintor francês Gustave Courbet (1819-1877) provavelmente tinha outra referência. Pensando que todos nós nascemos de uma vagina, ele fez o quadro abaixo – e deu a ela o nome de "A Origem do mundo". [ ... ]
Tags: arte, reflexão









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