Beleza e Arte

A estreita relação que estabelecemos, entre beleza e arte, pode se tornar um equívoco, principalmente quando os critérios que determinam o que é belo estão comprometidos com uma estética promotora do consumo.

Importante lembrar que toda unanimidade é especialmente valiosa para o exercício do consumo. Já para o indivíduo ela uniformiza o pensamento afastando-o da opinião e da ousadia. Infelizmente, há uma estratégia que alimenta essa “estética da unanimidade”. Ela é a nossa ordem vigente, que apenas se diferencia dependendo do grupo sócio-econômico ao qual pertence.

É nítido como as ações arte-educacionais sofrem com a interferência dessa estética que só legitima aquilo ou aquele que cumpre seus padrões.

Boa parte do meu tempo como arte-educador dedico à revisão ou à desconstrução de alguns critérios de beleza trazidos pelos meus alunos. Enxergo esses critérios, muitas vezes, como reduzidores de seus potenciais expressivos. Meu recurso frente à força dessas “verdades” vendidas pela mídia, é a provocação. No entanto, devo confessar: provocar é dar início a uma batalha ou apenas desistir.

Não se trata de uma batalha entre professor e aluno, mas entre esse indivíduo que vem sendo artificialmente construído pela sociedade e ele mesmo. Uma batalha pela procura de seus valores originais, legítimos.

Também no universo infantil, esse comportamento de aceitação de uma estética comum, sem diferenças e particularidades, vem acontecendo cada vez mais cedo, comprometendo sensivelmente os processos criativos das crianças.

A busca por perfeição, tornou-se, para muitas, quase uma obsessão. Seria talvez um acertar para pertencer. Como não existem acertos na arte, resta o pertencimento como meta e o consumo como manutenção dessa meta.

Evidentemente, as exigências do mundo adulto contemporâneo, com suas estratégias de conquista, excelência e melhor “performance”, são promotoras de competição e consequentemente também, grandes responsáveis por esse processo de afastamento entre a criança e o criativo. Restam as cópias, as tentativas de realismo, alguns artesanatos e muitos estereótipos para serem chamados de “aulas de arte”.

O que se quer encontrar numa manifestação artística?
Pessoalmente, quando contemplo, quando assisto, quero a verdade. Seja qual for. A verdade simbólica, da criança ou do artista. Quero o que o representa ou que parece falar do autor e pelo autor. Não preciso compreender ou concordar. Que seja mesmo absurdo… que permaneça ou não, mas sempre que for possível me instigue, me leve a outros olhares, outras formas de pensar ou mesmo aos meus próprios vazios, porque eles me enriquecem. Quem sabe, esses produtos me instiguem a ver e sentir novas maneiras de nomear beleza.

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