Arte é medida de segurança pública Seguir o Blog!
28/10/2017. BETTY FUKS / DENISE MAURANO
Sábios foram os gregos que, na Antiguidade, quando inventaram a cidade, colocaram a barbárie em cena, no teatro, e assim encontraram um lugar para ela na vida pública
Vendo crianças de escola pública em vários museus de Nova York, nos comovemos. Atentos às explicações dos professores, os alunos pareciam encantados pela magia das obras de arte. Cenas que nos fizeram perguntar sobre a função da arte na educação de um povo. Sabemos que foi no oco das cavernas que o ser humano começou a pintar. Não lhe bastou caçar, pescar, dormir, copular. Era preciso criar. Criando, inventou a escrita, a linguagem, produziu utensílios, religião, ciência e tecnologia. A tudo isso que nasceu do “bolsão da invenção” chamamos de cultura. E para que, nós, brasileiros, precisamos de cultura? Não será isso um artigo de luxo, sobretudo em nossa atual conjuntura? Por que nossas crianças devem ser sensibilizadas para a arte? Será que é porque isso nos transmite a vontade de criar? Afinal, não estamos no mundo como um peixe dentro d’água. O bebê humano sabe menos que qualquer tartaruguinha que acabou de nascer. Mas uma coisa é certa: a natureza, na sua dimensão mais atroz, a selvageria, permanece em nós. O que fazer com isso? É justamente aí que entra o trabalho da cultura. Ele será tão mais eficaz se não ficar restrito à ordem disciplinar, de censura e repressão. Shakespeare já nos advertia: quanto mais escondemos um sentimento, mais o revelamos! É na obscuridade que os monstros crescem. Freud, na trilha do poeta, questiona em seu texto trágico, “O mal-estar na cultura”, a vocação do homem em “satisfazer no outro a agressão, explorar sua força de trabalho sem ressarci-lo, usá-lo sexualmente sem o seu consentimento, infligir-lhe dores e assassiná-lo”. Essa relação hostil com o outro traduz a maior fonte de sofrimento humano. Sábios foram os gregos que, na Antiguidade, quando inventaram a cidade, colocaram a barbárie em cena, no teatro, e assim encontraram um lugar para ela na vida pública, de maneira a que produzisse o menor dano possível. Não estará aí uma das fórmulas? A criação, a invenção, a arte são modos de reconhecermos os horrores que nos habitam, como o ódio, o destempero, dando-lhes uma expressão palatável, e mesmo admirável, na cultura. Possibilitam uma espécie de purgação do horror. Nesse sentido, arte é medida de segurança pública. Promover meios para incitar a criação é trabalhar a favor dos processo de humanização. [ ... ]
Tags: arte-educação









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